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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Lady In The Water **

10.11.06, Rita

Realização: M. Night Shyamalan. Elenco: Paul Giamatti, Bryce Dallas Howard, Jeffrey Wright, Bob Balaban, Sarita Choudhuryk, Cindy Cheung, M. Night Shyamalan, Freddy Rodríguez, Bill Irwin, Mary Beth Hurt, Noah Gray-Cabey. Nacionalidade: EUA, 2006.





O erro de M. Night Shyamalan foi ter começado a sua carreira com dois grandes filmes. Com “Lady in the Water” vem acrescentar mais um ponto à minha escala de desilusão, onde entrou desde “The Village”.


Por muito que me custe, e por muito que eu goste de Brice Dallas Howard e adore Paul Giamatti (“American Splendor”, “Sideways”), por muito bons secundários (um destaque para Jeffrey Wright) e por muito bela que seja a fotografia de Christopher Doyle, tenho que admitir que este filme é pouco mais que um entretenimento de sábado à tarde (e um daqueles sábados em que temos mesmo de ficar em casa por causa da chuva e nos outros canais só estão a dar novelas).


Cleveland Heep (Paul Giamatti) é o responsável pela gestão diária condomínio The Cove, arranjando canalizações e fazendo todo o tipo de pequenos trabalhos. Numa noite, Cleveland descobre na piscina do prédio uma jovem de seu nome Story (Brice Dallas Howard), que mais tarde vem a saber tratar-se de uma “narf”, uma ninfa marinha cuja missão é entrar em contacto com o ser humano para o salvar e regressar ao seu “Mundo Azul”. O que a Cleveland parece um delírio é, com efeito, uma velha história para adormecer. Através de uma senhora coreana, Cleveland irá tentar desvendar o mistério que envolve Story.


Shyamalan coloca Cleveland numa interminável busca por detalhes acerca da história, junto de uma relutante emissora (afinal de contas tinha que ser uma longa-metragem), na tentativa de evitar o pior desfecho. A alguns habitantes do condomínio irá competir-lhes desempenhar as funções necessárias para que Story consiga salvar-se e ser recebida por uma “águia”. As personagens são tratadas com superficialidade e descartadas com indiferença. E é esse sentimento de indiferença que fica, e ao qual se junta o tédio provocado por um filme basicamente dispensável.


“Lady in the Water” aflora o mundo místico das histórias que povoam o folclore de muitas culturas, mas cai num registo de susto fácil com personagens pouco trabalhadas e das quais muito cedo perdemos o interesse. Em termos de tensão fica muito aquém de, por exemplo, um “Le Pacte des Loups” (2001) de Christophe Gans (2001), em termos de lamechice confesso na minha mente ressoava gritantemente “Cocoon” (1985) de Ron Howard (o pai de Brice Dallas Howard) e não me consegui abstrair desta imagem até ao final do filme.


O melhor de “Lady in the Water” é tudo aquilo que nada tem a ver com a “Lady” nem com a “Water”. Retirando a fantasia de trazer por casa, aquele condomínio tem potencial. Desde o grupo de ociosos que passa os dias a fumar erva e a filosofar, passando por um cínico crítico de cinema (esta personagem parece tudo menos aleatória) e diversas famílias mono-parentais com as suas peculiaridades. Mas Shyamalan deixou-as abandonadas, desperdiçou actores como Giamatti numa caricatura cuja única característica distintiva é a gaguez, ou Brice Dallas Howard reduzida a uma etérea transparência. Ao invés, impôs a sua própria presença física na personagem de Vick Ran, o mensageiro que entregará a mensagem de Story ao mundo, torna-se pesada e, muitas vezes, sem sentido.


Shyamalan preferiu ignorar uma mão cheia de boas pequenas histórias e optou por uma “ego-trip”. Uma pena.