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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Children of Men ****

08.11.06, Rita

Realização: Alfonso Cuarón. Elenco: Clive Owen, Julianne Moore, Michael Caine, Chiwetel Ejiofor, Charlie Hunnam, Claire-Hope Ashitey, Pam Ferris, Danny Huston, Peter Mullan, Oana Pellea. Nacionalidade: Reino Unido / EUA, 2006.





Existe uma certa tendência para retratar o futuro da humanidade como um meio asséptico, mecânico e frio, distanciando-o tanto da nossa realidade que quaisquer catástrofes nos parecem inverosímeis. Mas a Londres de 2027 de Alfonso Cuarón (“Y Tu Mamá También”, 2001) é perfeitamente reconhecível, o que torna esta visão distópica sobre uma sociedade totalitária à beira da derrocada bastante mais perturbante e assustadora.


Em todos os cantos se acumulam quantidades impressionantes de lixo, os prédios estão em ruínas, tropas armadas patrulham as ruas, e gaiolas públicas enchem-se de emigrantes antes que os mesmos sejam enviados para campos de concentração. É a criminalização destes estrangeiros que garante a lealdade popular.


Este cenário de desolação é agravado pela condição de infertilidade da raça humana. A consternação é geral quando, em Buenos Aires, Diego, de 18 anos, a pessoa mais jovem do mundo, é assassinado. É num contexto de ausência de futuro e de esperança que se desenrola a acção de “Children of Men”, baseado no romance de 1993 de P. D. James.


Theo (Clive Owen) é um ex-activista agora integrando a máquina burocrática do Ministério da Energia. Theo é raptado por Julian Taylor (Julianne Moore), líder do grupo terrorista Fishes. Mas Julian é também ex-mulher de Theo e mãe do seu falecido filho Dylan (uma tragédia pessoal que explica o seu problema com o álcool). Por exigência do grupo, Theo deverá garantir que a jovem emigrante Kee (Clare Hope-Ashitey) chega em segurança até ao Projecto Humano, uma organização secreta que ninguém tem a certeza de existir. Theo aceita esta missão com relutância até descobrir que esta jovem se encontra grávida, e detém com ela o segredo para a sobrevivência da raça humana.


Quem ficou impressionado com a cena inicial de “Saving Private Ryan” de Steven Spielberg, irá certamente encantar-se com a batalha final de “Children of Men” e com o retrato realista de um cenário de combate. Como se de um documentário de guerra se tratasse, Cuarón filma de câmara na mão, com toda a segurança de um grande realizador. O espectador é colocado no meio do caos e violência através de um excelente design de produção e de takes tongos, adensados pelos sombrios azuis e cinzentos da fotografia de Emmanuel Lubezki.


A interpretação de Clive Owen é hermética, mais do que o habitual, entrando num contraste óbvio com o efusivo hippie do sempre grande Michael Caine. Os secundários são liderados por um complexo Chiwetel Ejiofor (“Melinda and Melinda”, 2004) e um divertido Peter Mullan (“Young Adam”, 2003).


“Children of Men” parte de uma perturbante premissa. Num futuro cru o frio, o desespero é a nota dominante. E se é verdade que enquanto há vida há esperança, não é menos verdade que enquanto há esperança há vida.




























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