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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Les Anges Exterminateurs *

25.10.06, Rita

Realização: Jean-Claude Brisseau. Elenco: Frédéric van den Driessche, Maroussia Dubreuil, Lise Bellynck, Marie Allan, Sophie Bonnet, Raphaële Godin, Margaret Zenou, Jeanne Cellard. Nacionalidade: França, 2006.





O realizador Jean-Claude Brisseau (“Choses Secrètes”, 2002) ambiciona ser a versão masculina de Catherine Breillat (“Sex is Comedy”). Mas falta-lhe o olhar cuidadoso, a subtileza, a sensibilidade e o bom gosto.


Como é que um filme com tanto sexo consegue ser tão aborrecido??? A Festa do Cinema Francês não terminou da melhor forma, mas suponho que a ter de vir, este filme tinha que ficar na última sessão, sob pena de prejudicar o restante festival.


Por onde começar? Bem, há uns anjos da morte que, acompanhadas do fantasma da avó de François (Frédéric van den Driessche) estão prestes a dar-lhe uma lição. Não se percebe a razão nem a extensão do castigo. Fica implícito que a própria morte. Antes fosse...


François é realizador, quer trazer algo de novo ao cinema e está decidido a fazer uma abordagem existencialista do sexo (e eu que pensava que “sexo logo existo” seria o suficiente). Ele quer que as actrizes se libertem dos limites (auto)impostos e se deixem levar pelas suas fantasias (claro que todas as fantasias destas mulheres passam por ter sexo com outras mulheres...!!!, vê-se logo que ele percebe disto!). Ele quer que elas ultrapassem os seus tabus eróticos (no final percebi que “seus” se referia ao próprio Brisseau). Para isso, François leva a cabo o exaustivo casting e, com as três actrizes escolhidas, ele dá largas à sua teoria sobre o prazer feminino.


Com efeito, Brisseau foi processado por algumas das actrizes que fizeram o casting e considerado culpado de assédio sexual. Na minha opinião, não lhe retiro a legitimidade para abordar este tema, de um ponto de vista artístico. Podia era tê-lo feito num filme com qualidade. A componente auto-biográfica do filme também não constituiu de per si um atestado de verosimilhança ou qualidade narrativa. No meu tribunal apenas o acuso (e condeno) de me ter feito perder tempo.


As actrizes estão todas elas desamparadas, sem um argumento onde se agarrarem e, com limitadas qualidades interpretativas, resta-lhes tirar a roupa (é para elas que vai a estrela solitária). Apenas a Lise Bellynck, no papel Julie, lhe é dada a oportunidade de algum dramatismo numa cena final. Raphaële Godin (“Trilogia Lucas Belvaux”) interpreta simultaneamente um dos anjos e Rebecca, uma anterior pupila de François, uma dualidade que obviamente fica sem explicação. A ideia parece ser criar suficiente confusão para não se notarem as falhas e o vazio. Por falar nisso, um erro básico de rapport conseguiu incomodar-me verdadeiramente logo numa das primeiras cenas de casting: filmada de frente e de costas, a actriz ter o lenço - um adereço que se revela importante - colocado de formas tão diferentes que cheguei a pensar que já era outro casting.


Como filme auto-justificativo, “Les Anges Exterminateurs” deixa também bastante a desejar. Na verdade, não nos importamos com qualquer uma das personagens. Nem com François, tentando equilibrar-se entre o pessoal e o profissional, nem quando os sentimentos começam a entrar no jogo (mais um estereótipo feminino...?). A importância da relação de confiança entre actrizes e realizador tem muito pouco a ver com a desinibição sexual, e há processos bastante mais violentos psicologicamente que os que aqui são retratados. “Les Anges Exterminateurs” é tão narcisista e masturbatório que Brisseau deveria tê-lo guardado na gaveta dos seus “home movies”.


Para finalizar, Brisseau fala do enigma do prazer feminino, como se isso fosse um mistério, um mito, tipo “yo nunca las he visto, pero que las hay, las hay”. Se ele quer explicar o prazer sexual feminino, captar o seu fascínio, a sua intensidade, a sua mística (na verdade, é uma coisa muito mais simples, nada de tão transcendental), melhor teria sido filmá-las a verem um bom filme porno. O prazer da mulher existe quando existe comunicação, em primeiro lugar com ela mesma e em segundo lugar com o(s) outro(s). Ponto final.


















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