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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

La Raison du Plus Faible ****

10.10.06, Rita

Realização: Lucas Belvaux. Elenco: Eric Caravaca, Lucas Belvaux, Claude Semal, Patrick Descamps, Natacha Régnier, Elie Belvaux, Gilbert Melki. Nacionalidade: França, 2006.





Depois da trilogia “Un Couple Épatant” / “Cavale” / “Après la Vie”, o actor-realizador Lucas Belvaux regressa à sua Bélgica natal com um drama social que inevitavelmente faz lembrar a preocupação de Laurent Cantet (“Ressources Humaines”, “L’Emplois du Temps”).


Patrick (Eric Caravaca) é um jovem pai de família, sobre-qualificado e desempregado, que divide os seus dias entre a lida da casa e o filho, a sua pequena horta, e os jogos de cartas com os amigos Robert (Claude Semal) e Jean-Pierre (Patrick Descamps) ambos ex-trabalhadores da fundição que ainda serve de paisagem ao seu dia-a-dia. Carole (Natacha Régnier), a mulher de Patrick, confia na sua valha mota para a levar cada manhã ao seu trabalho numa lavandaria, caso contrário teria de levantar-se de madrugada. Quando a mota deixa de funcionar, o pai de Carole insiste em lhe comprar uma Vespa, mas o orgulho de Patrick não o permite aceitar, sentindo o acto como uma afronta à sua dignidade. Perante esta questão, Robert e Jean-Pierre decidem organizar um assalto aos donos da fundição, que tratam de transformar as sobras de metal em dinheiro vivo. Para recuperar o que sentem como seu de direito irão contar com a ajuda de Marc (Lucas Belvaux), cujo passado-recente na prisão insiste em não o deixar seguir em frente.


Improdutivos e inválidos, com pena de si próprios, como se fossem cidadãos de segunda numa sociedade os exclui, estes homens sentem-se usados e abusados, com vidas vazias, sem trabalho, sem esperança, sem futuro, e também sem nada a perder. Eles querem acreditar que, apesar de tudo, ainda é possível conseguirem alguma coisa, e através deste crime eles voltam a experimentar uma sensação de vontade, de capacidade de agir sobre o seu mundo. Mas este ingénuo acto Robinhoodesco tem tanto de desejo de dignidade como de vingança.


O título não engana, Belvaux está do lado dos fracos. O seu trabalho com as personagens é detalhado, e é com minúcia que ele nos mostra as suas condições de vida. É o seu amor por elas que cria a espantosa empatia com este grupo de homens sofridos e frustrados. Na atmosfera de desencanto desta Liége industrial o verde contrasta com a paisagem industrial, como se nesse pequeno espaço se reduzisse toda a esperança de escapar a um destino inexorável.


A sua razão? Belvaux não a dá nem a tira. Mas para mim, a amizade e a solidariedade podem ser justificações para muita coisa. Até para actos estúpidos.