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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

13 (Tzameti) ****

09.10.06, Rita

Realização: Géla Babluani. Elenco: George Babluani, Pascal Bongard, Aurélien Recoing, Fred Ulysse, Nicolas Pignon, Vania Vilers, Olga Legrand, Christophe Van de Velde, Augustin Legrand, Philippe Passon. Nacionalidade: França / Geórgia, 2005.





“13” ( “Tzameti” em georgiano) conta a história de Sébastien (George Babluani), um emigrante de 22 anos da Geórgia que vive miseravelmente com a sua família na França rural, fazendo biscates para sobreviver e sem perspectivas de melhorar as suas condições de vida. Sébastien dá-se por contente quando consegue um trabalho a arranjar o telhado de Jean-François Godon (Philippe Passon). Não demora muito até que Sébastien perceba que o seu patrão é viciado em morfina e quando este morre de uma overdose, Sébastien fica sem forma de receber o seu pagamento. Por algumas conversas que escutou, Sébastien entende que Godon estava à espera de uma boa entrada de dinheiro, ainda que por meios perigosos. Apesar disso, Sébastien decide ficar com um misterioso envelope que chegou para Godon e seguir as instruções que lhe eram destinadas. Sébastien dá consigo a caminho de Paris, terminando no meio de um jogo onde a aposta mais baixa é a sua vida.


Este é um thriller existencialista, filmado a preto e branco, à boa maneira do film noir. A belíssima fotografia de Tariel Meliava e um genial trabalho de iluminação ajudam à atmosfera de mistério e à tensão que se vai adensando sobre o suave começo.


Géla Babluani apenas nos dá o que precisamos saber (e eu também não quero desvendar demasiado). Mas o que nos dá é o suficiente para percebemos a motivação de Sébastien em assumir o lugar do outro. “13 (Tzameti)” é um “coming of age” brutal, onde Sébastien se vê obrigado a sacrificar os seus valores morais, um caminho do qual não há regresso possível, e onde a inocência perdida se torna irrecuperável.


“13 (Tzameti)” é também uma metáfora para a Europa moderna, com uma burguesia que, escondida atrás de máscaras de respeito, civismo e cumplicidade, joga com a vida dos desafortunados com revoltante desumanidade. Este só não é o lado mais negro da natureza humana, porque a natureza (a outra, pelo menos) não é assim tão cruel.


A primeira longa-metragem de Géla Babluani, premiada na edição de 2005 de La Biennale di Venezia para Melhor Primeira Obra e com o Grande Prémio do Júri no Festival de Cinema de Sundance 2006, está muito bem filmada, com um ritmo irrepreensível e uma crueza perturbante, como se de um pesadelo se tratasse. Beneficia ainda de uma forte interpretação do estreante George Babluani, irmão do realizador (ambos filhos do realizador georgiano Temur Babluani), que consegue transmitir o terror, o desespero e a sua vontade de sobreviver sem usar uma palavra. Uma referência também para o intenso mestre-de-cerimónias (Pascal Bongard).


No limite, todos nós podemos ver-nos obrigados a esgravatar no nosso lado mais negro para sobreviver, mesmo que pensemos – ilusoriamente – em nós mesmos como boas pessoas que não fariam nada que pudesse magoar outros. Na verdade, fazemos isso todos os dias, só que em doses medicinais.