Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Frankie **

08.10.06, Rita

Realização: Fabienne Berthaud. Elenco: Diane Kruger, Jeannick Gravelines, Brigitte Catillon, Christian Wiggert, Jean-Louis Place, Gérald Marie. Nacionalidade: França, 2005.





A primeira longa-metragem da actriz Fabienne Berthaud, que levou 3 anos a filmar, conta a história da derrocada psicológica de uma modelo, Frankie (Diane Kruger). Descobrimos Frankie internada num hospital psiquiátrico, num estado quase catatónico, em resultado de um esgotamento nervoso. As cenas etéreas banhadas de luz do sanatório vão sendo intercaladas com flashbacks ao seu passado e ao seu dia-a-dia do mundo da moda.


Aos 26 anos, Frankie é já uma veterana na profissão, mas continua a fazer o seu dia correndo entre sessões fotográficas. O que deveria ser um emprego glamoroso, acaba por revelar-se uma mistura de acção desenfreada com tédio e solidão, cheio de gente superficial que trata os modelos como simples cabides esvaziando-os da sua humanidade. Exceptuando o motorista da agência, Tom (Jeannick Gravelines), Frankie não tem amigos e faz a sua vida em Paris completamente sozinha. A relação com a mãe, que continua a viver na Alemanha, é problemática, e o sentimento de vazio de Frankie só consegue encontrar algum refúgio na bebida.


O contraste entre os dois mundos é claro: a maquilhagem e a ausência dela, as cores e o branco, o isolamento e o excesso de pessoas. Fabienne Berthaud vai desenhando um caminho de progressivo esgotamento. Os nervos de Frankie começam a romper num exigente trabalho com o despótico fotógrafo Christian (Christian Wiggert) e o ponto de ruptura surge com um agressivo casting.


No hospital Frankie reflecte (sem verbalizar) sobre a sua vida e o seu futuro. Filmado como um documentário, o filme adquire algum realismo, mas os reduzidos diálogos e os takes longos e estáticos parecem apenas destinar-se ao efeito artístico, uma vez que raramente servem para fazer avançar a história sobre uma personagem que, por surgir tão afastada (os seus problemas com a mãe nuca são esclarecidos), já de si não inspira grandes afectos.


“Frankie” foi efectivamente filmado num hospital psiquiátrico, e os companheiros de internamento da personagem de Kruger são realmente doentes mentais. Kruger, que era ainda relativamente desconhecida quando começou este projecto, já tinha trabalhado anteriormente como modelo, e essa experiência terá certamente sido útil para a sua interpretação. Desde a forte pressão para ser tão magra quanto as suas “concorrentes” à sensação de se ser manipulado como um pedaço de mercadoria.


O argumento deste filme é como as modelos sobre as quais fala, um cabide com muito pouca carne. Para Kruger sobra a sua expressividade para transmitir o desgaste e o afastamento do mundo que a rodeia. Nem a visita do seu manager (Gerald Marie) parece revelar mais do que uma preocupação com os negócios. Por mais estranho que possa parecer, o lado negro da indústria da moda é o humano.






CITAÇÕES:


“I’m a coat hanger that about to be retired.”
DIANE KRUGER (Frankie)