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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Camping Sauvage *

07.10.06, Rita

Realização: Christophe Ali e Nicolas Bonilauri. Elenco: Denis Lavant, Isild Le Besco, Pascal Bongard, Yann Trégouët, Emmanuelle Bercot, Raphaëlle Misrahi, Martine Demaret, Jean-Michel Guerin, Marcel Fix. Nacionalidade: França, 2005.





Eu gosto de acampar, mas sou do tipo de ficar uma ou duas noites em cada parque, movendo-me pela Europa mediterrânica. Nunca fiz vida de campista, género rouloutte estacionada o Verão todo e jogo da malha ao final da tarde, apesar de ter passado uns longos dias (e noites) num parque na Costa da Caparica durante a minha adolescência. E sim, aquilo é como uma aldeia. Todos se conhecem, todos se controlam. O mesmo controlo que mantém a ordem - o tácito código de campista que permite deixar os nossos vulneráveis pertences à vista e acesso de todos - é aquele que olha com suspeita para tudo o que seja diferente, e, por isso, destabilizador.


“Camping Sauvage” deveria ter explorado mais esse lado cruel das pequenas comunidades a la “Dogville”, porque é a única coisa que se aproveita deste filme.


Camille (Isild le Besco, “À Tout de Suite”) tem 17 anos. Sente-se abafada pelos pais e insegura com o namorado. Passeia-se entediada pelo parque de campismo, escutando música, usando o seu corpo como o seu pequeno poder e desprezando os outros como corolário. Camille é revoltada e caprichosa por não poder fazer aquilo que lhe apetece. É neste estado anímico que ela conhece Blaise (Denis Lavant), o novo instrutor de vela. Ele está nos quarenta, é casado e tem um filho e este emprego é um último recurso vindo da mão do seu cunhado, Fred (Yann Trégouët), o gerente do parque. Meio perdido naquele ambiente, bem como na vida, Camille simpatiza com ele.


Os encontros inocentes entre ambos são rapidamente transformados em rumores sobre um caso. Os dois são incitados a evitarem encontrar-se, Blaise pelo cunhado e Camille pelo pai e pelo namorado. Blaise acede ao pedido, mas Camille, indignada pela invasão na sua esfera privada, insiste naquela amizade. Sempre é algo de diferente para colorir as férias.


Desde o princípio, “Camping Sauvage” caminha para a fatalidade, e quase desde o início desejamos que isso aconteça. Camille procura Blaise de uma forma caprichosa, uma adolescente manipulando na perfeição a fantasia do homem com crise de meia-idade. Quer um cúmplice na sua sensação de isolamento, iludida de que ele a entende (ao contrário dos outros, ele apenas não se dá a esse trabalho). Temos assim, imagens de Isild le Besco a correr sem soutien pelo parque atrás de Blaise, e quase apetece avisá-lo que ela vem aí e dar-lhe tempo para ele fugir, porque cedo percebemos que ela está à procura de problemas.


A realização (ou o argumento, os culpados são os mesmos) é completamente ineficaz em fazer-nos entender que atracção move os dois protagonistas, pois apenas parece que eles são empurrados pela vontade de terceiros. Blaise é um homem dominado que não transmite qualquer magnetismo, e Camille é pura e simplesmente irritante. À semelhança de “À Tout de Suite” há um claro abuso do lado mais sensual (?) de Isild le Besco, e que está a começar a criar em mim uma particular aversão (a Ludivine Saigner, isso sim é que é uma Lolita francesa!). E não é simplesmente com grandes planos a torto e a direito que se transmitem as motivações das personagens.


Não só não há instinto nas emoções de Camille e Blaise, que deviam ser cruas, como a química entre eles é totalmente forçada. De selvagem, nada. Para culminar, todo o desespero para salvarem aquele “amor” é incoerente e incompreensível, porque não se apoia em coisa nenhuma. Parece que não era só a Isild le Besco que faltava o soutien *.


* ‘apoio’ em francês